8 desafios e oportunidades para 2023

Em 2022, o cientista chefe da TDS Company, Silvio Meira, afirmou que o mundo se tornará cada vez mais digital em suas anotações sobre tendências. Posteriormente, essas anotações foram compiladas em um e-book intitulado “23 anotações para 2023“, no qual Meira aborda as transformações globais previstas para o ano de 2023. Além de destacar assuntos como os conflitos contínuos na Ucrânia, as instabilidades econômicas globais e a corrida dos países para descarbonização, Meira também lista inovações em andamento e avanços tecnológicos esperados em diversos setores, incluindo varejo e indústria.

A seguir, apresentamos alguns dos principais desafios (e oportunidades) que o mercado pode esperar neste ano (e nos próximos), de acordo com a visão do especialista:

Plataformas e ecossistemas cada vez mais digitais.

De acordo com Meira, em ecossistemas habilitados por plataformas, a estratégia é criada e se desenrola em redes escritas em código, o tempo todo, por muitos agentes, e todos ao mesmo tempo. “E as plataformas que interessam são digitais, em vez de simplesmente digitais: incluímos as dimensões física e social das infraestruturas e serviços e, aí, as possibilidades e combinações aumentam significativamente, porque não se trata de usar apenas as interfaces digitais de programação das plataformas, mas de, através delas, acionar agentes nas três dimensões do espaço digital”,  diz ele

Meira destaca também que a transformação dos negócios começa pela transformação das competências e habilidades para [re] escrever o negócio em código. “Uma transformação baseada em plataformas não é simplesmente a introdução de novas tecnologias numa empresa, é uma mudança radical na arquitetura, métodos e processo de criar valor na casa”, pontua.

Redes, escala e sustentabilidade

Plataformas – e suas infraestruturas e serviços – são a base do espaço digital, na opinião de Meira. “Especialmente do ponto de vista de novos negócios, desde que a nuvem se tornou prática, em escala, as plataformas têm habilitado modelos de negócios quase sempre assimétricos”, disse.

Segundo ele, esse modelo assimétrico é aquele que, de alguma forma, migra valor entre mercados. “Um dos exemplos clássicos é o jornalismo, no Brasil. Os anúncios – boa parte do valor que era capturado no jornalismo analógico – foram migrados, por plataformas digitais, para as [ou “a”] máquinas de busca e para as redes sociais. E os jornais ficaram com o problema de criar e entregar o valor. Daí a mega crise estrutural no ecossistema de jornalismo informativo do país, em especial nos mercados regionais e locais”, explicou.

Meira ressalta que as plataformas são novas fundações para criação, entrega e captura de valor, formando mercados, mediando a interação entre clientes e coordenando demandas.

Mundo Digital

Meira destaca que o mundo está se tornando cada vez mais digital, onde a interação entre o físico e o digital é cada vez mais intensa e complexa. Ele pontua que as empresas precisam se adaptar rapidamente a essa nova realidade para continuarem relevantes no mercado.

Meira afirma que o ano de 2023 (e os seguintes) exigirão estratégias mais sofisticadas e ágeis de todos os negócios para competir em um espaço que era relativamente difuso antes da pandemia, mas que se tornou cristalino nos últimos três anos. Ele observa que toda competição, em todos os mercados do mundo, ocorre no espaço digital, que possui dimensões físicas, sociais e digitais.

Para competir em 2023 e no mundo digital, Meira afirma que um negócio deve ser uma plataforma que habilita um ecossistema ou fazer parte de um ecossistema habilitado por uma plataforma. Ele adverte que os outros negócios não existem ou deixarão de existir em breve. Portanto, é crucial [re]desenhar a estratégia de um negócio para competir no espaço digital.

Além disso, Meira destaca que a implementação do 5G e da Internet das Coisas (IoT) terá um papel fundamental na transformação dos negócios. Ele observa que a combinação dessas tecnologias aumentará a velocidade e a eficiência das comunicações, permitindo novas possibilidades de criação, entrega e captura de valor em diversos setores.

5G e IoT

O 5G proporciona benefícios significativos em termos de velocidade, latência e capacidade de conexão simultânea, abrindo caminho para novas aplicações em áreas como realidade aumentada e virtual, a internet das coisas (IoT) e sistemas de monitoramento em tempo real em larga escala, indústria 4.0, cidades inteligentes e mobilidade autônoma.

Segundo Meira, o principal impacto do 5G será nas “coisas” conectadas, como veículos autônomos e gêmeos digitais, que trarão grandes avanços para diversos segmentos, incluindo a indústria. Para o especialista, a indústria 4.0 não se limita apenas à automação inteligente de fábricas por meio de redes em tempo real, sensores e atuadores em larga escala, orquestração de processos, sistemas, robôs e [re] educação de pessoas para atividades mais sofisticadas. “A indústria 4.0 trata da fábrica saindo da fábrica”, afirmou. “A indústria 4.0 é – ou deveria ser – a transformação de produtos em serviços, de clientes em usuários, de mercados em rede, que são ecossistemas habilitados por plataformas digitais”.

Meira também destaca as mudanças no varejo, que deve se tornar cada vez mais digital, com a integração de diversos canais de interação com os clientes (omnicanalidade), armazenamento de informações em nuvem, integração de armazéns e seus estoques, e sistemas de distribuição logística, entre outros. Nesse sentido, a análise de dados e a inteligência artificial também terão um papel bastante relevante, ajudando as empresas a entender melhor as necessidades de seus clientes e se adequar às suas demandas.

Por fim, Meira ressalta a importância da inteligência artificial e dos grandes algoritmos para aprimorar a tomada de decisões e potencializar as oportunidades de negócio. A IA pode ser utilizada em diversas áreas, desde a previsão de demanda até a personalização de produtos e serviços, passando pela otimização de processos e pela automação de tarefas repetitivas. Além disso, a análise de dados e a IA podem ajudar a identificar padrões e insights valiosos para a inovação e a diferenciação competitiva.

Inteligência artificial e grandes algoritmos

O impacto da IA nos negócios e na sociedade

No início do capítulo, Meira faz uma pergunta provocativa: “Quais você acha que serão os maiores impactos da IA nas capacidades de negócios, comportamento humano, vida social e na política?”. Ele aponta que é difícil prever os efeitos da IA, mas destaca o potencial da tecnologia para aprimorar a capacidade das organizações de analisar dados e tomar decisões, aumentando a eficiência e eficácia. Além disso, a IA pode automatizar muitas tarefas rotineiras, liberando os funcionários para se concentrarem em trabalhos mais complexos e criativos. No que diz respeito ao comportamento humano, a IA pode mudar a maneira como as pessoas interagem com a tecnologia e entre si.

Tomada de decisão base

“Os negócios têm a oportunidade de aprender com dados e devem fazer exatamente isso antes de começar a tomar decisões baseadas em dados”, alerta Silvio Meira. Ele observa que, nos últimos anos, com o avanço da internet e da mobilidade, os dados se tornaram abundantes, mas ainda faltam estratégias adequadas para o tratamento dessas informações. “Dados não se tornam análises e decisões com tecnologia [somente], mas com estratégia [primeiro]. Toda estratégia de informação de um negócio deve cuidar da preservação, consistência, privacidade e segurança de dados”, ressalta. Na visão de Meira, embora os dados sejam essenciais para orientar decisões, o olhar humano ainda é fundamental. “Só o que não for criativo [ou seja, quase tudo] será decidido por algoritmos”, resume.

Quanto à questão da segurança das informações – e das transações em ambientes virtuais -, Meira acredita que a blockchain terá um papel fundamental. Com sistemas específicos de validação de informações em rede, a tecnologia possibilita a proteção de todos os registros e, no caso de operações financeiras, viabiliza o acompanhamento de todas as etapas (ou o rastreamento dos valores), o que contribui para a prevenção de fraudes, por exemplo. Além de garantir a segurança em operações com criptomoedas e com as chamadas CBDCs (moedas digitais emitidas por bancos centrais), a blockchain permitirá diversas inovações, como as identidades soberanas (controladas pelos respectivos titulares e com diversos dados, como documentos  oficiais e informações médicas, entre outras). 

Metaversos

 No contexto descrito, Silvio Meira acredita que a blockchain terá um papel fundamental na segurança da informação e das transações em ambientes virtuais. Com sistemas de validação de informações em rede, a tecnologia permite proteger todos os registros e acompanhar todas as etapas de operações financeiras, prevenindo fraudes. Além disso, a blockchain permitirá inovações como identidades soberanas, que podem armazenar documentos oficiais e informações médicas, por exemplo. A criação de metaversos também será habilitada pela blockchain, trazendo diversas oportunidades para setores como educação e varejo, e permitindo até mesmo cirurgias remotas.

Trabalho, emprego e… escritório?

Com tantas mudanças acontecendo, Meira reflete sobre como a forma de trabalhar vem se transformando. A pandemia acelerou o processo de adoção do home office, tornando-o comum e levando muitas pessoas a repensarem seus estilos de vida. “Para muitos, estar fisicamente presente será reservado para atividades valiosas. Em vez de ir para o trabalho e ficar sentado em um plano aberto, tendo que usar fones de ouvido com cancelamento de ruído para se concentrar e resolver problemas do dia a dia, muitos preferem ficar em casa”, observa.

O progresso da tecnologia tem um papel extremamente relevante nesse sentido. Afinal, como os profissionais poderiam ter acesso às informações corporativas sem o ambiente de nuvem? No entanto, o novo modelo ainda exige muitas discussões sobre a produtividade dos colaboradores remotos e a necessidade cada vez maior de adotar estratégias de segurança de dados.

De acordo com Silvio Meira, diante dos novos cenários, a partir de 2023 a inovação terá um papel cada vez mais relevante para negócios de qualquer área ou segmento. “O futuro vem do futuro”, diz ele em suas anotações finais. “É preciso criar cenários, personas, hipóteses e fazer experimentos, que exigem energia, foco e tempo. Tempo que ninguém tem para o futuro, porque o presente ocupa todo o tempo. Estamos sempre atrasados, como o coelho branco de Alice”, conclui.